grupo de pessoas olhando um quadro com gráficos durante reunião de trabalho

Para passar da teoria à prática, o conhecimento torna-se uma peça chave. Sem ele, o efeito das ações de motivação será transitório

Recentemente chamou-me a atenção um artigo que falava sobre o excesso de palestras motivacionais que ocorrem em todos os cantos do país. A imensa maioria delas é voltada para incentivar o empreendedorismo. Como esta é uma área que estou totalmente envolvido desde o início dos anos 80’, quando sofri muito para aprender a empreender, fico à vontade para opinar que palestras motivacionais são muito boas. Mas a empolgação dura até quando você volta para seu ambiente de trabalho.

Os problemas reais na maioria das vezes esfriam a motivação de uma tal maneira que você se arrepende de ter gasto tempo e dinheiro para ouvir uma pessoa dizer que você e sua empresa alcançarão um sucesso enorme, e sua vida pessoal se transformará, bastando para isso seguir todas as recomendações do palestrante. Melhor teria sido se você tivesse gasto seu tempo com um curso específico de administração empresarial ou procurasse um consultor ou um mentor para tratar diretamente do assunto que mais incomoda, não é verdade?

Você ouve exemplos de unicórnios com tanta frequência, que de repente você começa a desvalorizar o seu negócio e começa a se deprimir com isso. Aquele mesmo negócio, que era o seu sonho, parece que não traz mais motivação e sabe por que isso acontece? Porque talvez você esteja se rendendo aos desafios por falta de conhecimento em determinadas áreas da sua empresa. Às vezes o problema é financeiro e você não sabe como lidar com isso, ou as vezes é de marketing, ou de produção, de vendas ou de compras etc. Enfim, você se sente sozinho e não sabe o que fazer. É nesta hora que o empreendedor tem que lembrar que ele não é super-homem.

Se o empreendedor precisa voar e não sabe como, ele precisa colar em alguém que sabe. Mais do que nunca, a necessidade de possuir uma “educação empreendedora” está muito presente nas empresas de economia normal e nas de inovação tecnológica. Uma grande injeção motivacional sozinha, não irá resolver o problema de um empreendedor se ele não souber o caminho a ser seguido. O desespero acaba seguindo aquela máxima: “quando não se sabe para onde ir, qualquer caminho serve”. Não! Não é isso. Não existe mágica e nem uma solução milagrosa que resolva o problema da noite para o dia.

O que existe é a decisão de replanejar a empresa tirá-la da crise. Ninguém muda nada se não fizer diferente. Sabe qual é a melhor maneira de se motivar e ter um bom motivo para sair da cama? A resposta é: mudança! A melhor maneira de mudar é começando pelas pessoas da sua equipe. Não estou dizendo para despedir todo mundo, mas você precisa ser exigente com as pessoas e juntos enfrentarem e encontrarem as soluções para a empresa.

Analise se você tem as pessoas certas ao seu lado e conclua qual a melhor maneira de lidar com elas. Certa vez li em um livro que falava de como conseguir fazer negócios com o Warren Buffet, um dos maiores investidores do planeta, e uma das frases dita por ele e que guardo sempre comigo foi:“Eu sempre contrato pessoas para trabalharem nas minhas empresas, que saibam mais do que eu”.

Pode até parecer estranho, mas nos dias de hoje ainda existem empresas lideradas por pessoas que nunca buscaram obter uma boa cultura empreendedora para gerir seu negócio corretamente, ou seja, não conhecem nada sobre “governança corporativa e gestão de pessoas” e dentro deste tema, gosto muito de uma definição dada pelo IBGC: “Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas” .

Vou dar um exemplo abaixo do como uma falta de governança pode levar uma empresa para uma situação quase falimentar. Não faz muito tempo, fui procurado para um trabalho de consultoria em uma empresa com mais de 20 anos no mercado e que nos últimos cinco anos havia passado por uma divisão societária.

Os sócios que permaneceram, ao invés de agirem com calma e continuarem fazendo o que estava dando certo e aos poucos modernizarem a administração, preferiram de uma hora para outra mudar tudo nas áreas em que os antigos sócios comandavam. Acreditavam que desta forma iriam conquistar uma liderança maior perante a equipe de colaboradores. Não se utilizaram ou buscaram obter nenhum conhecimento que pudessem fundamentar as mudanças e o resultado desta atitude, levou a empresa para uma enorme crise financeira.

Foram as atitudes precipitadas e impensadas, as grandes responsáveis pela desmotivação da equipe, queda nas vendas, descontrole orçamentário e uma grande perda de pessoas talentosas. Criou-se o que se chama de “ambiente tóxico” dentro da organização. Logo no diagnóstico inicial realizado, notamos que a empresa estava acometida por erros clássicos de empresários que sem nenhuma análise, mas com uma certa dose de prepotência, cometem equívocos que resultam em danos difíceis de serem reparados.

Avessos a planejamentos e treinamentos da equipe, sem perceber agiam de forma amadora, por acharem que “eles” haviam colocado a empresa em uma posição sólida e intocável no mercado. Julgavam que a tecnologia utilizada era suficiente, sendo que modernizá-la, seria algo dispendioso e desnecessário. Calculavam equivocadamente os preços de venda, os impostos, as despesas fixas e variáveis e a lucratividade.

Também agiam de forma totalmente errada e imprudente na hora de calcular os pró-labores e as divisões dos supostos lucros, o que provocava uma verdadeira “sangria” no caixa. Me vi obrigado a ser rígido na conclusão do diagnóstico, uma vez que fui chamado para reverter o quadro. Mostrei como conclusão a falta de “governança corporativa”. Tendo minha proposta de trabalho aprovada, eu e minha equipe começamos a implantar nossa metodologia de governança para o saneamento da empresa.

O plano de ação realizado não precisou ser muito complexo. Bastou uma grande atuação em todos departamentos, com foco no “lean method” como: instruções e procedimentos de trabalho, produção excessiva e desprogramada, perdas e desperdícios, excessos de estoque, excesso de produtos defeituosos, retrabalho, movimentação, logística, automação, planejamento financeiro e a organização contábil/tributária. Obviamente enfatizamos o treinamento da equipe mostrando que o comprometimento de todos fosse fundamental.

O resultado foi muito bom e a empresa voltou a crescer e a ter uma boa saúde financeira. Concluindo, gostaria de citar uma frase que diz respeito à busca de soluções dos problemas em livros, sites e palestras motivacionais: toda a informação recebida e não colocada em prática, gera obesidade cerebral. Portanto, a ordem é trabalhar com motivação nas mudanças que se decide implantar no negócio. Planejamento é tudo, mas precisa ser seguido. Ter conhecimento e ter um time competente ao seu lado é a melhor forma de viver motivado pelo seu negócio. Motivação só não basta, é preciso estar sempre buscando novos conhecimentos e implantá-los com competência.

Edson Ferro, mentor ABMEN. Especialista em desenvolvimento de produtos e processos produtivos

Link original: https://itforum365.com.br/colunas/motivacao-e-muito-bom-mas-ter-conhecimento-e-bem-melhor/