É inegável que a Mentoria de Negócios nos cativa. Um Mentor de Negócios, no desempenho de tal atividade, profissionalmente e com metodologia, experimenta sensações distintas a cada sessão. A oportunidade do aprofundamento é singular, pois em um ambiente onde o novo é uma constante, cada negócio mentorado se torna de fato um evento ímpar para todos os envolvidos, seja por sua narrativa ou qualquer outro fator que balance o seu coração.

O amor, que é um dos componentes presentes no espectro poético, reside latente no eu lírico de cada indivíduo e é parte importante da Mentoria de Negócios. Quando nos apaixonamos queremos falar, queremos dizer ao outro aquilo que pensamos, porém, dizer o quê? E para quem?

Com ou sem o efeito de um poema, por exemplo, anatomicamente não me faria sentido sugerir o coração como sendo a Mentoria de Negócios. De certo que entre átrios e ventrículos, penso que tal musculatura pertence ao seu tomador de decisão, todavia, se eu pudesse mal comparar a uma parte do corpo, e como tal a sua funcionalidade, holisticamente eu diria que a Mentoria de Negócios se apresenta muito mais como uma glândula pineal, pois é o terceiro olho, representado no olhar do Mentor de Negócios. Atentos necessariamente, ambos têm uma jornada imersos em maiêutica.

Seguindo assim a nossa trilha apaixonada, nada de errado tem em o Mentor de Negócios declarar sua fascinação pela ação em si e, debruçando-se cada dia mais no estado da arte, torna-se também um ser apaixonante. Porém, não custa lembrar que, em meio a sedução recíproca, o mediador de conhecimento não equipado das ferramentas adequadas em seu mindset, poderá pôr tudo a perder. 

E se o match entre o mentor e o negócio for um problema? Como entronizar-se no mantra “Não amais o negócio alheio? Como não deixar a vontade de sugerir algo vencer a força da técnica de mentorar? 

Neste sentido, me parece que a repercussão e prejuízos desta forma de amor, normalmente só acarreta danos ao Mentor de Negócios, normalmente o pobre socrático padece de uma viuvez sem fim, como um luto, pois, uma coisa é certa, o negócio sempre segue em frente e por isto vale o esforço de amar somente a Mentoria de Negócios.

Como assim, não devo me atrair pelo negócio? De jeito algum. Sinta-se atraído, harmonize-se com ele, conheça-o, todavia, sugerir soluções é um pouco demais, é o chapéu trocado na mais clara percepção. 

Assim, se o amor sempre vence e eu longe de pretender mudar tal dito, me pego a pensar, por que não mudar então o alvo do amor?

Certa vez, em um dos programas de incubação que participei, recebemos, eu e minha parceira de Mentoria de Negócios, uma startup premiada para trabalharmos. Neste caso, se observarmos o histórico e possibilidades existentes na bagagem da startup, o processo de Mentoria de Negócios poderia colaborar com a mudança de patamar atual, de MVP devidamente validado, para a hipótese de um nível de Go to Market.

Esta poderia ser a aposta, o percurso, porém, não dependia do que achávamos enquanto Mentores de Negócios. O tomador de decisão enxergava bem diferente e aquele modelo de negócios precisava ser amplamente revisto em sua opinião. Havia a certeza de que o estado atual do modelo de negócios limitava a sua capacidade de escalar com o seu produto, que já era muito bom no formato inicial para ser bem sincero.

Após algumas sessões de Mentoria de Negócios, o tomador de decisão havia encontrado a formatação ideal dentro daquilo que ele buscava e entendia como o mais adequado para a sua nova fase com a startup. Ressalto que, de um processo que se apresentou praticamente desenhado, fez-se uma pivotagem, novas percepções de segmentos foram explorados, alterou-se a arquitetura e montagem de um novo produto, tudo isso cem por cento do zero, e as peças do quebra-cabeças estavam todas posicionadas novamente.

Pois bem, nas sessões que seguiram os desafios foram vencidos um a um e havia todo um novo formato a disposição da startup. Em nossos ouvidos, já havia a contagem regressiva, direto do Cabo Canaveral, e o foguete decolaria rumo ao infinito. 

Todos os componentes seguiam para este fim, as validações comerciais com apresentações para clientes reais indicavam isto, a perspectiva se tornava cada vez mais crível. Todavia, o nosso countdown foi interrompido subitamente e recebemos a informação direto do centro de lançamento (Houston, we have a problem), e o comandante abortou o lançamento. 

Assim, a startup premiada, que pivotou e fez tudo de novo do absoluto zero, optou por trabalhar o seu produto originário, com os mesmos clientes, para solucionar a dor inicial, que na primeira sessão apresentava-se sem futuro. Em suma, o passado, ora sem oportunidades, se apresentou como o futuro onde a mão alcança.

Certo ou errado? Não nos cabe tal julgamento enquanto Mentores de Negócios. Que fique claro, a decisão final sempre pertencerá ao mentorado, contrariamente, se tal decisão fosse minha ou sua, se daria por um outro processo que não o de Mentoria de Negócios.

Para nós, enquanto Mentores de Negócios neste trabalho, uma dupla que ama a Mentoria de Negócios mais que o negócio mentorado, confirmou-se a única verdade: “no final das contas, o resultado do negócio não nos pertence, seja ele o melhor ou o pior.”

Em contrapartida, ganha o Mentor de Negócios a partir de um curso de ação devidamente acordado e recepcionado pelo mentorado, espontaneamente, é o êxito, o jubilo da mediação de conhecimento.

Neste sentido, a Mentoria de Negócios se faz extremamente sedutora e apaixonante, porque a mediação de conhecimentos satisfaz a todos, cada qual sai com a sua parcela de aprendizado ao final de cada sessão.

Assim, nesta quase conclusão, eu deixo um trecho de uma canção, de um artista que realmente gosto muito e ouvindo nesta última semana, como já ouvi tantas outras vezes. Desta vez o refrão me causou uma inquietação, gerando a motivação para escrever estas linhas. O artista em questão, uruguaio, se chama Jorge Drexler e a música é “La trama y el desenlace” sendo o seu refrão em português assim, em uma tradução livre:

“Ir e vir, Seguir e conduzir, dar e ter
Entrar e sair da fase
Amar a trama mais do que o resultado
Amar a trama mais do que o resultado”
(traduzido p/ português BR)

Por fim, após esta inspiração vindo de um Tannat com taninos macios, por conta da posição geográfica oriental, há que se considerar que, por mais brilhante que seja a sessão de Mentoria de Negócios, o resultado, no que tange ao negócio em si, cabe única e exclusivamente ao seu tomador de decisão e nesta relação meio que platônica, te convido: que tal, Mentor de Negócios, amar a trama mais do que o resultado?

Registro os meus agradecimentos aos amigos e Mentores de Negócios Marcelo Vieira, Davi Andrade e Daniel Galvão pela gentileza e disponibilidade para a revisão do texto