Em um país extenso e complexo como o Brasil, ainda que com deficiências sistêmicas em inovação, responder a essa pergunta é um desafio que envolve variáveis econômicas, sociais, tecnológicas e locais.
Redes interdependentes
O conceito de ecossistema remete à Biologia e à Geografia, no qual organismos vivos compartilham território, funções e interdependência. Assim, um ecossistema de inovação é um sistema em que startups, universidades, parques tecnológicos, agentes públicos, investidores e empresas estabelecidas, entre outros atores, interagem para gerar inovações. Essa visão é alinhada com a abordagem da Teoria da Tríplice Hélice (Etzkowitz e Leydesdorff, 2000), que destaca a colaboração entre governo, academia e setor privado para gerar inovações. A inovação em um determinado território, por sua vez, não é um fenômeno isolado, mas resultado de trocas constantes com outros territórios. Avaliar a maturidade e a importância desses ecossistemas exige escolha entre metodologias e abordagens, podendo gerar resultados bastante diversos.
Possíveis métricas
Alguns aspectos que podem ser considerados: densidade de startups, scaleups e empresas de tecnologia; faturamento de empresas de tecnologia em relação ao PIB local; qualidade e densidade de ICTs (Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação); capital humano; infraestrutura de inovação (parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras e hubs); infraestrutura tecnológica e digital; políticas públicas de apoio à inovação; acesso a capital para inovar, parcerias (público-privada, startups-corporações e ICTs-empresas) e cultura de inovação (eventos, conexões e educação). Abordagens mais robustas exigem múltiplos indicadores. O Global Innovation Index (WIPO, 2023) utiliza 80 indicadores distribuídos em pilares como instituições, capital humano, infraestrutura, sofisticação de mercado e produção de conhecimento. A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realiza estudos sobre densidade empresarial, patentes e investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), enfatizando a importância de um ambiente regulatório favorável e da alocação eficiente de recursos. Destaca-se ainda o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com a Pintec (Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica), com dados sobre atividades de inovação tecnológica das empresas brasileiras.
Índice LinkedIn
Iremos propor como provocação útil a criação de uma métrica baseada no LinkedIn, maior rede profissional do mundo. Utilizando seu mecanismo de busca, levantamos a presença da palavra inovação em perfis de usuários em uma ampla gama de municípios em março de 2025. A partir daí, dividimos os resultados pela sua população, conforme o último censo do IBGE (2022). Geramos então um valor denominado Índice LinkedIn, vinculado à informação autodeclaratória de quem cria um perfil nessa rede. Embora simplificado, o índice serve como ponto de partida para discussões sobre cultura inovadora, convidando-nos a observar o quanto pensamos em inovação localmente. As 25 cidades mais inovadoras do Brasil, segundo esse índice, são as seguintes: 01) Florianópolis (SC), 02) Curitiba(PR), 03) Belo Horizonte (MG), 04) São Paulo (SP), 05) Porto Alegre (RS), 06) Campinas (SP), 07) Vitória(ES), 08) Santa Rita do Sapucaí (MG), 09) Blumenau (SC), 10) São Carlos (SC), 11) São José dos Campos (SP), 12) Recife (PE), 13) Itajubá (MG), 14 ) Joinville (SC), 15) Niterói (RJ), 16) Sorocaba(SP), 17) Brasília(DF), 18) Ribeirão Preto (SP), 19) Uberlândia (MG), 20) Caxias do Sul (RS), 21) Goiânia(GO), 22) Rio de Janeiro (RJ), 23) Londrina (PR), 24) Fortaleza (CE) e 25) Salvador (BA).
Conclusão
Não existe fórmula única para identificar uma cidade inovadora, assim como sua maturidade e importância. A experiência e a literatura nacional e internacional mostram que isso depende da existência, da importância e da interação de inúmeros agentes e fatores que pode ser captada por meio de métricas. Cidades inovadoras não nascem prontas, são construídas dia após dia por atores de um complexo ecossistema.
Referências
– Calazans, A. (2025). Cidades Inovadoras | Ecossistemas de inovação mais competitivos do Brasil – https://youtu.be/XbNrN41mEnc
– Etzkowitz, H., & Leydesdorff, L. (2000). The dynamics of innovation: from National Systems and “Mode 2” to a Triple Helix of university–industry–government relations. Research Policy.
– IBGE (2023). Pesquisa de Inovação Tecnológica nas Empresas – PINTEC. https://www.ibge.gov.br/
– OECD (2023). Innovation indicators and policies. https://www.oecd.org/innovation/
– WIPO (2023). Global Innovation Index 2023. https://www.wipo.int/global_innovation_index/en/
Este artigo representa a opinião pessoal do autor.
