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Venho acompanhando a construção e o desenvolvimento desse “novo” ecossistema brasileiro de inovação e empreendedorismo há nove anos e desde 2016 ajudando a valorizar o trabalho dos Mentores de Negócios e de Startups nos diversos ambientes de empreendedorismo e inovação Brasil afora.

A Mentoria de Negócios e de Startups ainda não foi totalmente compreendida como absolutamente necessária para o sucesso dos empreendedores, negócios e empresas. Apesar disso, para nossa alegria, há muita gente boa se engajando aos diversos ecossistemas. Entretanto, estão vindo despreparados para a tarefa.

Explico melhor. Não é pelo fato de ter uma grande bagagem profissional, vivências e de ter sido empreendedor, alto executivo, consultor, coach, empresário etc., que a pessoa está pronta para o ofício da Mentoria de Negócios. A fragilidade do processo de desenvolvimento de negócios e, principalmente, de empreendedores é explicada pela quantidade de projetos que não deslancham, MVPs que são mera fumaça e dinheiro público e privado jogado fora em negócios e empreendedores iludidos e despreparados. Atuar em Mentoria de Negócios requer preparo e dedicação. Essas pessoas boas têm que vir para contribuir efetivamente e não para destruir sonhos, autoestima e desperdiçar as oportunidades e o tempo dos outros.

Tenho ouvido e lido muita coisa dentro e fora do Linkedin que têm me assustado, dado o grau de ignorância do que vem a ser uma Mentoria de Negócios de verdade. Para início de conversa, continuam confundindo Consultoria, Coaching, Advisor, Aconselhamento com Mentoria de Negócios. E, para piorar, está entrando mais um, o Mentoring, para aumentar a confusão. São todas atividades parecidas, porém com propósitos bem distintos. Entretanto, todos são úteis e muitas vezes necessários, mas desde que cada um esteja dentro do seu escopo de atuação.

Vamos tentar eliminar a confusão de uma vez por todas entre Consultoria, Coaching, Mentoring e Mentoria de Negócios na tabela abaixo.

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O ecossistema de base, da ideação à validação do MVP ou protótipo, requer 100% de Mentores de Negócios. E digo isso porque a aquisição do conhecimento necessário para aumentar a chance de uma ideia vingar na hora certa é muito mais consequência da capacidade de entendimento do cenário, em que o negócio está sendo construído para o futuro, do que da bagagem que um(a) consultor(a), coach, empreendedor(a), empresário(a) ou executivo(a) traz consigo. Conhecimento é algo que se adquire, não que se entrega. Conhecimento é construído no conflito, não vem de mão-beijada. 

Para entender melhor o contexto da Mentoria de Negócios é necessário recorrer à História. Quem primeiro deu luz ao uso da expressão “Mentoria” e sua aplicação ao empreendedorismo foi David Cohen, CEO da Techstars, quando em 2011 publicou “O Manifesto do Mentor”. São 18 comportamentos que ele sugeriu de seus empreendedores avaliarem, quando fossem buscar um mentor para seus projetos/negócios. O primeiro ponto, a primeira recomendação, é que o(a) mentor(a) seja socrático.

Mentores de Negócios devem ser 100% socráticos para ajudar os empreendedores a entender o mundo ao seu redor, o ambiente de negócios, os diversos contextos e, de alguma maneira, tentar despertar neles a consciência para si mesmos. A natureza da Consultoria é completamente oposta; entrega a ferramenta, a solução prática para resolver os problemas. Apenas isso. Nenhum compromisso com a aprendizagem ou com o desenvolvimento do conhecimento no outro.

E ser socrático é antes de tudo entender que o profissional de Mentoria de Negócios não será o protagonista na interação com os empreendedores. Aos Mentores de Negócios cabe um papel secundário, coadjuvante. Aos Mentores de Negócios, assim como aos verdadeiros educadores, cabe o papel de mediadores do conhecimento. Assim, nosso arcabouço de conhecimentos formais e informais, experiências, vivências, diplomas são apenas referenciais para gerar uma reflexão, viabilizar o conflito, gerar a crítica. A única certeza no processo de Mentoria de Negócios é que o que está escrito explicitamente são regras, manuais técnicos e Leis. O resto é interpretação e tomada de decisão. Assim, quando um(a) suposto(a) mentor(a) diz para os empreendedores fazerem tal coisa, porque é o “certo”, não está atuando como “Mentor(a)”. Infelizmente vemos isso o tempo todo em diversos programas públicos e privados; eles estão cheios de consultores travestidos de mentores.

Mentores de Negócios verdadeiramente socráticos mediam o conhecimento; não dizem o que é certo ou errado. Eles favorecem a aprendizagem a partir da sua bagagem profissional, conceitual e de vida. Mas não é a bagagem que faz um mentor; é o contexto do momento que o torna útil, juntamente com a sua capacidade de interpretação, sua cognição e sua habilidade de levar o(a) mentorado(a) do que para ele é desconhecido ao que já é conhecido, sabendo que esta será uma construção muito particular, muito singular.

Mentores de Negócios têm que estar disponíveis para que o processo socrático se dê. E ser socrático significa ter método. Mentor(a) sem método é um(a) “pitaqueiro(a)”, que impõe seu ponto de vista, sua forma de ver o mundo e de fazer as coisas, totalmente descompromissado com o desenvolvimento dos empreendedores e de seus negócios e, principalmente, desrespeitando a singularidade que cada empreendedor é.

O único programa existente no Brasil que possibilita que consultores/coachs atuem como Mentores de Negócios verdadeiramente socráticos é o PMBM – Programa de Metodologia-base para Mentores, desenvolvido pela INNASA RIO Incubadora em parceria com a Associação Brasileira dos Mentores de Negócios – ABMEN. O PMBM não é um curso de formação de mentores. Longe disso. É um curso de aprimoramento metodológico onde o profissional vai se aperfeiçoar e entender como fazer para se tornar e atuar de maneira socrática e a respeitar a singularidade de cada empreendedor(a) que cruzar o seu caminho, fazendo da sessão de mentoria um espaço de aprendizagem e autonomia para os empreendedores.

Por ser um Programa único, a ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores fez uma parceria com a ABMEN/INNASA RIO para levar o Processo INNMENTORING® a seus associados, incrementar seus programas e preparar melhor seus quadros de mentores para o desafio de transformar o Brasil num país exportador de tecnologia e importador de royalties.

Para saber quando e onde novas turmas do PMBM estão sendo oferecidas, siga nossas redes sociais.

Colaborações: Davi de Freitas Andrade, Cecília Gomes, Laércio Matos e Fred Serrano.

Sobre o autor:

Eduardo Nogueira é Presidente da ABMEN desde jan/2018, Sócio da INNASA RIO Incubadora e Desenvolvedor e Instrutor Sênior do Programa de Metodologia-base® para Mentores – PMBM. É Mentor de Negócios e Startups desde 2012.

Artigo publicado originalmente no Linkedin.