Como mentor participante de vários programas de aceleração de startups, tive a oportunidade de assistir a várias palestras e painéis que tratam do assunto “Industria 4.0”. Confesso que todas as apresentações abordaram o assunto de forma superficial, não falando muito sobre as atitudes efetivas que estão sendo aplicadas.

Até certo ponto é normal que não se fale de forma clara e exemplificada. Porém, uma startup focada em soluções tecnológicas para essa nova “revolução industrial”, com certeza quer algo além de motivação para desenvolver seus projetos. Também, gostaria de sair destes eventos com uma visão mais clara de como direcionar suas ideias, para quem, e para qual atividade da cadeia de produção.

Os grandes pilares (10) da indústria 4.0 estão na integração das tecnologias:

✓ Big Data.

✓ Cibersegurança.

✓ Cloud computing.

✓ Computação de alto desempenho.

✓ Internet das Coisas (IoT).

✓ Manufatura aditiva.

✓ Materiais avançados.

✓ Realidade aumentada.

✓ Robótica.

✓ Simulação e design digital.

Recentemente li em um artigo que “Quem inventou a indústria 4.0 foi a Alemanha para proteger sua indústria pesada”. Se for realmente isso, fica claro que a Alemanha está criando uma nova revolução industrial para se proteger. Eles estão encontrando a solução para lutar contra seus competidores usando a tecnologia em seus processos produtivos. Trazendo esse exemplo para nosso país, todos sabem que não temos muita força na indústria de transformação, mas temos força na indústria de mineração e no agronegócio. Porém, esses setores precisam dar um foco maior na implantação de novas tecnologias para acompanhar a demanda, ser mais competitivo, crescer e não correr riscos de perder mercado.

Nossa indústria de manufaturados vem sofrendo  há algumas décadas com a falta de competitividade frente aos produtos produzidos na Ásia. Passamos por um processo de desindustrialização enorme e, infelizmente isso continua. Convivi de perto com muita mágoa essa desindustrialização na empresa que atuei nos últimos 25 anos. Comandei todo crescimento industrial desta empresa e assisti ao desenvolvimento profissional de muitas pessoas que fizeram parte dos diferentes departamentos, mas infelizmente nos últimos anos, estas pessoas foram perdendo seus espaços, uma vez que o trabalho que elas faziam, passou a ser feito na China.

Atuando como mentor nos programas de aceleração de startups, notei que esta ideia de que “produzir na China é mais barato”, está muito presente nas mentes de boa parte dos novos empreendedores. Muitos nem analisam os custos de produção local e já partem em busca de fornecedores asiáticos.

Para romper este conceito de que “não vale a pena produzir no Brasil”, vejo o surgimento da indústria 4.0 como uma grande oportunidade para as empresas brasileiras passarem a serem competitivas. Verificando um levantamento recente do Banco Mundial, o Brasil aparece como a 9ª economia mundial, mas somente o 81º país em competitividade.

Faço aqui algumas perguntas: como melhorar nossa competitividade? Não seria a atitude das empresas brasileiras em aderir rapidamente as tecnologias da indústria 4.0 e encontrar a solução? Que tal nossos competentes empreendedores encontrarem no uso da tecnologia, a tão almejada redução nos custos e passarem a industrializar em nosso país? Que tal incentivarmos cada vez mais nossos profissionais de tecnologia procurarem as pequenas e médias industrias brasileiras para juntos encontrarem a solução para aumento da produtividade e redução dos custos? Acredito que a oportunidade impulsionada pela 4ª. Revolução Industrial está batendo em nossas portas e cabe aos brasileiros, tomarmos a atitude de acreditar que somos capazes de implantá-la. Algumas grandes empresas estão criando programas abertos para startups, mas ainda são muito poucas. O fato é que precisam ser mais abertas em ouvir as ideias dos nossos profissionais de tecnologia que buscam por oportunidades.

Já na questão “infraestrutura brasileira e a indústria 4.0”, é fácil perceber que precisa melhorar radicalmente, especialmente nas áreas de comunicações, pois é imprescindível que se possam armazenar, processar e comunicar elevadas quantidades de dados acessíveis de qualquer lugar. Abre-se aqui, mais uma grande oportunidade para as startups.

Em 2018 a Fiesp, em parceria com o Senai-SP, realizou uma pesquisa (no estado de SP) e constatou que 32% dos entrevistados não tinham ouvido falar em quarta revolução industrial ou Indústria 4.0. Participaram da pesquisa 227 empresas, sendo 55% pequenas, 30% médias e 15% grandes.

Para as 68% dos participantes, ou 154 empresas, que já ouviram falar em Industria 4.0, os principais resultados da pesquisa foram:

Finalizo mostrando as áreas com maior potencial para se beneficiar da Indústria 4.0 : produção (55%), controle da produção (50%), rastreabilidade (38%), controle de qualidade (32%), planejamento (31%), e engenharia de desenvolvimento de novos produtos (31%). As grandes destacaram manutenção (34%) e suporte a clientes (31%)

Edson Ferro, mentor ABMEN. Especialista em desenvolvimento de produtos e processos produtivos

Link original: https://itforum365.com.br/colunas/industria-4-0-esta-aguardando-por-atitudes-das-empresas-brasileiras/